sábado, 2 de maio de 2020

A Quarentena e Eu

Obra O Planeta Imóvel de Lua Leça
Fiquei me perguntando o que essa quarentena está mudando em mim, de alguma forma a mudança veio sem nem eu procurar. Ela foi orgânica, sentida na pele, tipo uma coceira, que faz você pensar que algo está estranho mas não reage, porque no fundo você quer sentir o prazer de ter que coçar até abrir uma ferida.
Eu sinceramente, no sentido mais literal e verdadeiro possível, não procurei ou me propus a estar aberta a mudanças nessa quarentena. Eu tive apenas aquele pensamento ingênuo de virada de ano com algumas propostas, mas nada extremamente concreto, foi só o momento da contagem regressiva em que você faz alguns pedidos para ter a esperança hipócrita que tudo vai ser diferente.
A verdade é que, na minha teoria, foi um pensamento tão coletivo que se concretizou.

A mudança simplesmente veio sem perguntar se estávamos prontos.

De brinde veio também uma percepção bem aguçada de tudo aquilo que tínhamos preguiça de querer investigar. Aqueles tempos de Jaiminho em que evitar a fadiga era mais prático teve que ficar para trás, ou você enxerga, ou a laranja mecânica te obriga a abrir os olhos. E nessa de abrir, você se depara com muitas coisas.


Em algum desses dias em que só estava sentada arrastando o dedo no meu celular vi o quanto estava sentindo falta dos meus amigos, respirei fundo e comecei a procurar conversas, revi fotos e senti de verdade a saudade de alguns, mas ao mesmo tempo também percebi que outros estavam ali só preenchendo espaço no meu WhatsApp. 

O mais intrigante dessa analise de amizades é que enxerguei que algumas de fato não tinham significado algum na minha vida e ainda descobri que na falta de tempo e na vida corrida de antes, essas amizades eram apenas uma desculpa para evitar a fadiga de desfaze-las. E essa desfeita nem precisaria de um textão para concretizar o “divórcio”, elas simplesmente poderiam se desfazer naturalmente. E sabe por que? Porque na verdade a troca ou a identificação não existe mais ou talvez nunca existiu, essas amizades eram apenas entretenimento, ou até mesmo protocolares. Na minha verdade – vamos deixar o minha bem claro aqui – as amizades nasceram para serem desfeitas, é duro se desapegar do romantismo que também foi criado para elas, mas a real é que cada um tem sua evolução e amadurecimento pessoal e em algum momento um vai ficar para trás, pois os ciclos são tão certos quanto a morte.

O mais louco de tudo isso é que você não precisa ser responsável por elas, porque na verdade você não é e nem nunca foi o pequeno príncipe. O que você cativa é a escolha do outro de se identificar e querer estar ali. A responsabilidade está no que você causa no outro, pois as consequências de lidar com elas serão apenas suas.
No momento em que percebi essas desfeitas naturais, também percebi que eu estava apenas entendendo o que realmente me faz bem. Nessa minha verdade, as amizades têm que me merecer e isso não é nenhuma falta de modéstia, é honestidade comigo mesma. Elas que lutem, não é mesmo?  
Bom, eu não tenho um conselho maravilhoso para dar para vocês com esse texto e essa nem era minha pretensão, isso aqui foi só um desses desabafos que ficam martelando na minha cabeça e que na falta da terapia, escrever tem me ajudado muito.
Mas conclusões precisam ser feitas quando se propõe um conteúdo, mesmo sendo só um texto solto na web. E a única conclusão em que cheguei nesses dias é que pensar é inevitável e que a palavra chave para essa quarentena, pelo menos a minha palavra: é percepção. Pois evita-la será impossível, mesmo que você não queira perceber nada, a laranja mecânica vai te perseguir.  Então meus caros, durmam com essa, ou não, porque tá bem difícil dormir ultimamente!

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