segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A menina sem pernas

Era uma vez uma menina sem pernas.
Que morava num mundo estranho, onde todos se escondiam de si.
Ela também se escondia, porque tinha vergonha de suas pernas que eram diferentes de todos que moravam lá.
Por isso todos achavam que ela não tinha pernas.
A menina não conseguia correr e vivia presa naquele mundo cheio de pessoas iguais que se preocupavam apenas com o que os outros escondiam.
Toda vez em que ela tentava sair alguém sempre dizia: “Lá vai a menina sem pernas, o que será que ela tem no lugar delas?”
Ela sentia medo de mostrar e por isso acabava ficando ali, parada naquele lugar onde ninguém a enxergava de verdade.
Uma noite a menina sem pernas decidiu fugir sem saber para onde. A única coisa que ela sabia é que queria voltar a correr, como quando era criança, sem medo de nada.
E ela foi, saiu se encolhendo pelas sombras do seu mundo e quando viu que ninguém mais podia vê-la, tirou o pano que escondia suas pernas e correu por uma estrada escura e solitária.
A menina correu tanto que já nem sabia mais onde estava, olhou para os lados e não viu nada. Então decidiu parar, ficar mais calma e descansar para poder seguir em frente quando o sol raiasse.
Ela caiu num sono profundo e feliz e sonhou como a muito tempo não sonhava. Sonhou que era livre e que corria em um campo de girassóis sentindo o vento no rosto.  
E quando ela sentiu o calor do dia amanhecendo em suas bochechas, ela acordou sorrindo, mas ao abrir os olhos levou um grande susto. Um menino cor de sol estava em cima dela parado olhando nos seus olhos.
No mesmo instante a menina procurou seu pano para poder esconder as pernas, mas quando olhou para o menino cor de sol percebeu que ele também tinha as mesmas pernas que ela.
A menina ficou olhando pasma para aquilo, ela achava que só ela tinha pernas assim. Então o menino cor de sol sorriu com os olhos e ao sorrir ela sentiu o seu calor e viu que não precisava mais sentir medo.
O menino cor de sol mostrou o campo de girassóis onde morava e contou para menina sem pernas que ela podia ser livre porque na verdade ela era um centauro e não deveria ter vergonha e nem medo disso.
E assim a menina sem pernas percebeu que podia ser quem ela realmente era e que medo era apenas a escolha de quem gostava de se esconder.

E desde então ela é conhecida como a menina cheia de pernas que corre livremente nesses campos de girassóis.  

Saindo de vez...

Não vi o tempo passar.  Mergulhei até o fundo e me mantive ali, naquele silêncio.
Tentando colocar os pés num chão que não chegava e quando percebi já estava escuro demais.
Meus ouvidos entupiram, meus olhos arderam e meu ar ficou preso. Mais uma vez me afogando...  Mais uma vez tentando morar num aquário que não era meu.
Ninguém pra me tirar dali, apenas eu juntando todas as forças para dizer adeus. Ali já havia sido bom, mas agora está frio e eu não fui feita para ficar embaixo d’água.  
Fiquei dias nadando contra toda a corrente da minha razão, juntei todo ar que me restava para poder sair.
Não foi fácil chegar a superfície, não está sendo fácil ver todo o fundo de fora.
Mas é bom estar por terra essa sempre foi minha essência.
Tente entender... Eu fui feita para correr e não para nadar. 

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Alma Penada

Tento me enxergar em espelhos cortados e me procurar em lugares escuros.
Tento sentir o que arde apagado em mim e me defender sem escudos.
Já caminhei em círculos e parei num quadrado... parado, na ponta de um precipício virado.
Coloquei meu abismo à prova e deitei em minha própria cova.
Dormi num sonho inacabado, calado. No silêncio de um grito rasgado.
E quando acordo encontro o mesmo espelho cortado.